Pesquisa da Embrapa indica que própolis da abelha da Amazônia acelera a cicatrização de feridas e reduz inflamação

Publicado por Marcos Fantin - Globo Rural
Propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias foram identificadas a partir de um creme formulado com própolis produzido por abelhas sem ferrão nativas da Amazônia. O estudo da Embrapa extraiu a substância da espécie Scaptotrigona aff. postica, conhecida como abelha-canudo, e testada em cobaias de laboratório. Segundo a pesquisa, os resultados são comparáveis aos de pomadas cicatrizantes disponíveis no mercado.
O estudo foi conduzido por cientistas da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), e os resultados divulgados no artigo Atividade Curativa da Própolis de Abelha Sem Ferrão (Scaptotrigona aff. postica), Criada em Monocultura de Açaí (Euterpe oleracea) publicado na revista científica Molecules.
Além da eficácia na recuperação dos danos, o creme apresentou menor resposta inflamatória e uma regeneração dos tecidos com melhor qualidade em comparação a uma pomada comercial. A pesquisa sugere um alto potencial farmacêutico para um bioproduto.
Papel fundamental do açaizeiro
A abelha-canudo tem sido alvo de estudos da companhia de pesquisa pela sua eficiência na polinização do açaizeiro. O artigo foi um desdobramento de uma pesquisa que avaliou a frequência desse inserção nativa nas flores de açaí. “Como ela produz bastante própolis, foi levantada a questão da possível influência do ambiente de açaizeiros na qualidade desse produto”, explica o professor da UFPA Nilton Muto, um dos autores da publicação.
O própolis é resultado da combinação de substâncias derivadas de resinas vegetais e pólens coletadas pelas abelhas no ambiente, e aliadas às ceras que elas próprias produzem. A origem das substâncias do própolis pesquisado não foi determinado pelas análises, porém, os autores acreditam que o ambiente de cultivo de açaí onde as colmeias foram instaladas contribuiu para dar uniformidade à sua composição química.
“A palmeira do açaí é altamente valorizada por suas elevadas concentrações de compostos fenólicos e antocianinas, que possuem significativa capacidade antioxidante”, diz o estudo.
As análises químicas realizadas no própolis da abelha-canudo coletado em ambiente de cultivo de açaí apresentaram uma boa concentração de compostos bioativos. A presença de compostos fenólicos excederam em mais de 20 vezes a quantidade mínima estabelecida pelo Ministério da Agricultura para determinar a qualidade do própolis. Já a classe dos flavonoides superou em quase quatro vezes o índice mínimo estabelecido pela mesma regulamentação.
Na análise macroscópica, a olho nu, tanto o creme à base de própolis da abelha-canudo quanto a pomada de uso comercial tiveram desempenho semelhante, diminuindo o tamanho do ferimento. Já ao analisar os tecidos com microscópio, os pesquisadores encontraram diferenças relevantes.
“Observamos uma recuperação mais rápida de fibras colágenas tipo 1 e tipo 3 e na redução da inflamação no tratamento envolvendo o própolis”, afirma Muto.
Ele explica que essas fibras são importantes porque fornecem suporte ao tecido que está regenerando, enquanto um menor processo inflamatório também facilita a cicatrização. Até então, nenhum creme à base de própolis com origem em cultivo de açaí havia sido identificado.